* RJ , TEATRO DULCINA e Odilon

TEATRO DULCINA NO CENTRO DO RIO DE JANEIRO ESTÁ FECHADO
Rua Alcindo Guanabara , 19 Cinelândia RJ

o Dulcina está na relação dos Teatros da Rede Municipal alugados
pela Secretaria das Culturas. Está alugado desde dezembro de 2001. Consta como beneficiário a Fundação Nacional de Artes - FUNARTE.

Características físicas:
O palco, cuja boca de cena media 7m de largura por 5m de altura, era provido de urdimento com 12m de altura. As coxias tinham 1m de largura; a profundidade do palco era de 8m e a avant-scène tinha 0,80m. A passarela media 10m de comprimento e 0,80m de largura. (Ficha Técnica dos teatros SNT – 11/12/78).

O teatro dispunha de 8 banheiros, sendo 2 destinados aos artistas e os outros estavam assim distribuídos: 2 nas galerias, 2 nos balcões e 2 na platéia.

O sistema de refrigeração, tempos depois, contava com uma chave a óleo para partida do motor de 60HP, além de uma chave de 30A para a bomba d’água e 2 chaves de 60A para os motores de ventilação de acordo com a Ficha Técnica do SNT de 1978.

Em 1981 foi iniciada uma nova reforma com o arquiteto Robson Jorge Gonçalves.

Espetáculos: Em junho de 1946, Genolino Amado, que estreava como autor teatral, dizia: “ me alegra que “Avatar” se apresente na inauguração do Regina tão esplendidamente remodelado...” E Odilon acrescentava: “Estrearemos dentro de dias com “Avatar” que é uma linda peça”.

Uma peça moderna, em 3 atos, que foi inspirada num conto de Gauthier, segundo declaração do próprio autor. Do elenco, tendo à frente Dulcina-Odilon ele afirmava: “O elenco mais brilhante do Brasil, a expressão maior do nosso teatro”.

Já como propriedade do MEC – Ministério da Educação e Cultura e sede da Companhia Dramática Brasileira, teve reabertura anunciada para agosto de 1977.

O teatro não foi palco só de peças teatrais, pois ali a admirável atriz Conchita de Moraes, mãe de Dulcina, “em 29 de abril de 1950, recebia do governo brasileiro a Comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul como um tributo de admiração e agradecimento pelo que fez pelo teatro”.

Em 1978, segundo relatava o Anuário da Casa dos Artistas, o Teatro Dulcina abriu “suas portas, às sextas-feiras, para apresentação do Projeto Pixinguinha, de incentivo à música popular brasileira, da Funarte”.

Lotação: segundo registra a Ficha Técnica do SNT – em 1978 – a lotação era de 568 lugares: 110 no balcão; 4 nos camarotes; 4 nas frisas; 80 nas galerias; além de 8 cativas.

Vinculação: em 1945 passou a pertencer à Companhia Dulcina-Odilon que criava no mesmo ano a Fundação Brasileira de Teatro “com o objetivo de ensinar teatro aos jovens”.

Em 1953 a Fundação Brasileira de Teatro (funcionou no 5º. andar do edifício Regina até 1977) dirigida por Dulcina de Moraes tornava-se proprietária do teatro.

Em 1961, por meio de um contrato de locação, o Sr. Arthur Fomm alugou-o por um ano, para atividades artísticas, de 01 de julho de 1961 a 30 dejunho de 1962 – pelo preço de trezentos mil cruzeiros mensais.

Em 05 de abril de 1977 o Teatro Dulcina “foi vendido ao Ministério de Educação e Cultura e ... a veterana atriz (Dulcina) entregou suas chaves ao diretor do Serviço Nacional de Teatro, Orlando Miranda”

A partir de então, até a época em que foi fechado para reformas – dezembro de 1981 – o SNT cedia o Teatro Dulcina a companhia selecionadas por uma Comissão Julgadora. O período mínimo de ocupação era de oito semanas e máximo de doze meses, destinando-se 8% de renda ao SNT, de acordo com os Editais de 1977, que regulamentaram a concorrência para ocupação do teatro por companhias profissionais.



***** DULCINA DE MORAIS *****

Dulcina de Morais (Valença RJ 1908 - Brasília DF 1996). Atriz. Intérprete de marcado estilo próprio, sobretudo no gesto e no rosto, e de temperamento mais propício à comédia, Dulcina atravessa cinco décadas de montagens sucessivas, três delas à frente de sua companhia, tornando-se um "monstro sagrado" do teatro brasileiro. Na década de 50 cria a Fundação Nacional de Teatro, uma das primeiras escolas de formação em teatro no país.

Filha dos atores Conchita e Átila de Morais, Dulcina toma parte em representações da companhia mambembe dos pais ainda bebê. A carreira de atriz começa na década de 20, quando assina seu primeiro contrato, com a Companhia Brasileira de Comédia, de Viriato Corrêa. Aos 17 anos, entra para a empresa teatral de Leopoldo Fróes, a mais importante do início do século. Já no começo de carreira, seu desempenho chama a atenção do público e da imprensa, que o define como uma vocação inata. Ao mesmo tempo em que é elogiada pela sinceridade, pela naturalidade e pelo temperamento vivaz, recebe restrições a seus excessos, sua falta de domínio do rosto e dos gestos, incapazes de comedimento.

Em 1934, funda com o marido, o ator Odilon Azevedo, a companhia Dulcina-Odilon. No mesmo ano, protagoniza Amor, de Oduvaldo Vianna. O autor se encarrega da orientação artística da montagem e promove uma lapidação na interpretação da atriz que a faz, segundo o crítico Mário Nunes, transformar seu nervosismo em expressividade e, dessa forma, atingir "a posição mais alta que no nosso meio uma atriz pode alcançar".

O sucesso da atriz atinge as camadas mais altas da sociedade e Dulcina faz moda: os vestidos que usa em cena servem como modelo para o público feminino. Ganha medalha do mérito da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT, como melhor atriz do ano de 1939 pelo conjunto de trabalhos.

Em 1945, a montagem de Chuva, de John Colton e Clemence Randolph, tem apoio e subvenção do ministro Capanema para uma temporada oficial no Teatro Municipal. O espetáculo se torna um marco em sua carreira, na medida em que se mostra engajado na modernização teatral - principalmente pela idéia de conjunto em que se baseia. A crítica considera o papel de Sadie Thompson um dos melhores da carreira da atriz. Um dos aspectos que mais impressiona o público é a chuva, que durante os três atos cai sem parar no palco. Em viagem ao exterior, Dulcina merece destaque na imprensa espanhola e Chuva se torna o carro-chefe da companhia, fazendo parte de seu repertório durante 15 anos. Na remontagem de 1953, a revista Anhembi publica que "Chuva está para os nossos velhos grupos profissionais como Vestido de Noiva está para os novos",2 em função da técnica e do equilíbrio que caracterizava a montagem.

Em 1949, ganha novamente o Prêmio ABCT, mas agora como melhor direção por Mulheres, de Claire Boothe.

Em 1952, Dulcina já é a "primeira atriz do teatro brasileiro".3 Volta a ser criticada pela interpretação desmedida em A Doce Inimiga, de André-Paul Antoine, 1953, ano em que ganha o Prêmio Municipal de Teatro de melhor direção por O Imperador Galante, de Raimundo Magalhães Junior.

No final dos anos 50, convencida da necessidade de revestir a profissão de ator de uma preparação técnica, a atriz investe o dinheiro poupado ao longo da carreira na criação da Fundação Brasileira de Teatro, FBT, que realiza cursos e espetáculos. Em 1972, transfere-se com sua fundação para a capital federal.

Dulcina só retorna ao palco carioca em 1981, a convite de Bibi Ferreira, que a dirige em O Melhor dos Pecados, de Sérgio Viotti, escrito especialmente para a atriz. O espetáculo se inicia com uma citação de Chuva: ao se apagarem as luzes, ouve-se a gargalhada da atriz na coxia - o que faz o público, na estréia, ovacionar vivamente, em sinal de reconhecimento. Ganha o Prêmio Molière Especial. O crítico Yan Michalski, identificando que toda a razão de ser do espetáculo estava no retorno e na homenagem a Dulcina, a define como "monstro sagrado", termo que identificava os grandes atores, capazes de unir carisma e técnica numa interpretação pessoal. No texto, o crítico define o estilo da atriz: "O instrumental de que Dulcina dispõe, particularmente no gênero da comédia ligeira e sofisticada, sempre foi admirável: ela domina o desenho do gesto com precisão milimétrica, desloca-se pelo palco com uma elegância toda pessoal, dispõe de uma gama bem definida de recursos faciais, elaborou uma musicalidade de inflexões inconfundível, e sobretudo controla à perfeição esse trunfo misterioso - mas eminentemente técnico - chamado 'tempo da comédia'."

Notas
1. NUNES, Mário. 40 anos de teatro. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1956. v. 4. p. 94.
2. REVISTA Anhembi, abr. 1953. Citado por RABETTI, Beti. Trabalho realizado para o catálogo de inauguração do Teatro Dulcina, Rio de Janeiro, 1984.
3. ABREU, Brício. Citado por RABETTI. Op. cit. p. 10-11.
4. MICHALSKI, Yan. Dulcina em noite de glória. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 25 agos. 1981.

Nenhum comentário: